quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

OS BARES DA VIDA

Por William Almeida

Sanduiche de Pernil do Cervantes - Copacabana
Onde se come um definitivo sanduiche de pernil com abacaxi? E aquele bolinho de Bacalhau? E aquela sopa de siri com aroma de prazer eterno? E o delicioso pastel de camarão? Só nos bares e botecos!! Todos os bares, botecos, pé-sujos, tendinhas, barracas e afins, são paralelos e sinônimos de uma coisa só: boa comida e poesia de calçada. É lá que comemos bem, afogamos mágoas, encontramos amigos, encontramos contrários, jogamos conversa fora e palavreamos conversas fúteis. Lembra daquele guardanapo outrora branco, usado por boca qualquer e deixado sujo? E o esquecido copo com restinho de caldo de mocotó ao lado no balcão? E resto de asa de galeto suculento debruçado sobre o prato da casa? Final de alguma sopa na cuia, fritas frias, moelas tenras, certeza de pessoas! Muita serragem pelo chão, gelo em cubos, copo sujo de batom, imagem de São Jorge dependurado, fiado no prego, notinha assinada, mictório com pencas de limão, garçom de gravata borboleta e sorriso estampado, são nossos botecos, bares e tendinhas, amor e ódio.

Torresmos crocantes
Conversas de bar: futebol, política, fofocas, mulheres, mulheres, futebol, mulheres, futebol. Empadinha de camarão, anis com vodka, torresmos impensados, sutis bolinhos de carne, pasteizinhos de vento, de queijo, acararajés, noite adentro, madrugada alta, sereno, manhã. Homens reunidos horas, mulheres reclamando horas em casa, sambas, composições, brigas, tapas e beijos. Tudo isso acontece nos bares, acontecem planos, projetos bem delineados, imagens no papel, histórias, estórias do nada, segredos. O primeiro beijo, o segundo encontro, desencontros. Partilhas, demoras, pagodes de vida, separações, promessas e devaneios. Bêbados abraçados, copos quebrados, palitos usados, ficha de sinuca, ficha de toto, vídeo pôquer, bolso vazio e pendura. Bebida gelada, bebida quente, sorrisos soltos, escancarados, despedidas, casualidades, algumas verdades e muitas mentiras. Uma academia de pessoas, de sonhos, bloco de sujos, verbo, olhares de sedução, cigarros, fumaça, churrasco, brancos azulejos, tampos de mármore, madeira, solidão.

Posta de Dourado - Quiosque da Ponte
Rio das Ostras


 Os bares e botecos são nossos terapeutas, divã de nossas felicidades e infelicidades, tira o gosto azedo da boca e do cotidiano, desfia vida, é pão de alho fresquinho sem livro de auto ajuda, sem esperanças e lembranças demais, apenas poesia de amor e ódio curando ressaca de dias que se vão muito rápidos.
"E somente com alegria é que a gente realiza bem a seqüência do dia a dia", abençoando aquele café expresso de toda manhã, caminho de amor, caldinho de feijão, cadinho de vida, salsinha de tempo. Fecha a conta.